EM • Rastreamento Oncológico & Vigilância por DMT

Rastreamento Oncológico & EM (DMTs)

Baseado em diretrizes oficiais brasileiras • Atualizado: 09 out 2025
🔗 Referências

Tabela de rastreio oncológico no Brasil (população geral) + ajustes para pacientes imunossuprimidos em uso de DMTs para EM

Esta síntese enfatiza recomendações nacionais atuais e o que muda para imunossuprimidos por disease-modifying therapies (DMTs). Para achados fora do escopo (p.ex., síndromes hereditárias), seguir protocolos específicos.

⚠️ Política vs Diretriz

Mamografia: INCA (set/2025) recomenda rastreio organizado 50–74 anos, a cada 2 anos [R1]. O SUS ampliou acesso 40–49 anos por decisão compartilhada (política assistencial) [R2].

Câncer Quem rastrear (população geral) Exame / Intervalo (população geral) Ajustes p/ imunossuprimidos em DMTs p/ EM Notas & DMTs (fontes)
Colo do útero 25–64 anos, sexualmente ativas. Rastreamento organizado com teste DNA-HPV primário no SUS (2025). [R3], [R4] DNA-HPV de 5/5 anos (intervalo conforme diretriz). Onde não disponível, citologia permanece válida. [R3], [R5]
  • Imunossuprimidas (HIV, transplante, uso crônico de corticoide, DMTs): citologia semestral no 1º ano; se normais, anual enquanto houver imunossupressão. [R6], [R7]
  • HIV com CD4 < 200: manter semestral até melhora. [R6], [R7]
DMTs que reduzem vigilância imune ao HPV → manter intervalo encurtado durante vigência da imunossupressão. Base em protocolos locais e diretrizes históricas [R8].
Mama Mulheres 50–74 anos, a cada 2 anos. [R1] Mamografia bienal; 40–49 anos: acesso ampliado no SUS por decisão compartilhada. [R2]
  • Anti-CD20 (p.ex., ocrelizumabe): seguir rigorosamente rastreio padrão de mama. [R9]
  • Alemtuzumabe: sem rastreio adicional específico de mama além do padrão. [R10]
Ocrelizumabe (bula profissional Brasil): “as pacientes devem seguir as diretrizes padrão de triagem de câncer de mama”. [R9]
Colorretal Programas regionais (não há programa nacional único). Muitos serviços adotam FIT anual/bi-anual 50–74 a depender de protocolo local. [R11], [R12] FIT (imunoquímico fecal) com encaminhamento pela linha de cuidado; colonoscopia conforme resultado/risco. [R11] Sem ajuste formal por DMT; considerar baixar limiar para investigação de sintomas e manter cronograma do serviço. Exemplos nacionais: SES-DF (linha de cuidado com FIT) [R11]; experiências como Barretos (alto-risco). [R12]
Próstata Não recomendado rastreamento populacional (PSA/toque) pelo MS/INCA. [R13] Diagnóstico precoce apenas em sintomáticos ou grupos muito selecionados, decisão compartilhada. [R13] Sem ajuste por DMT para rastreamento populacional, mas atenção a sintomas urinários e achados clínicos. Nota técnica MS/INCA (2023) reafirma não rastrear população geral. [R13]
Pulmão Alto risco: 50–80 anos, ≥20 maços-ano, fumante atual ou cessou <15 anos — considerar TCBD anual, decisão compartilhada. [R14], [R15] Tomografia de tórax baixa dose anual, com cessação do tabagismo integrada ao programa. [R15] Sem ajuste por DMT no critério de entrada; manter elegibilidade padrão e reforçar cessação do tabagismo. Recomendações conjuntas (SBCT/SBPT/CBR) publicadas no JBP. [R15], [R14]
Pele (não-melanoma & melanoma) Não há rastreamento populacional; recomenda-se diagnóstico precoce com autoexame orientado e exame clínico quando indicado. [R16] Exame clínico conforme risco/achados; dermatoscopia conforme avaliação especializada.
  • Moduladores de S1P (p.ex., siponimode): exame de pele antes e a cada 6–12 meses durante o tratamento. [R17]
  • Alemtuzumabe: realizar vigilância para câncer de pele; manter exame cutâneo regular (ex.: anual) durante e após. [R10]
  • Fingolimode: orientar fotoproteção e vigilância clínica para lesões novas; intervalo periódico definido pelo serviço (prática de classe S1P). [R18]
INCA (versão p/ profissionais) enfatiza diagnóstico precoce; S1P e alemtuzumabe possuem alertas para neoplasias cutâneas nas bulas/SmPC. [R16], [R17], [R10], [R18]
Boca & orofaringe Sem recomendação de rastreamento populacional. [R19] Abordagem oportunística em alto risco (tabagismo/álcool/lesões). [R19] DMTs não alteram rastreio populacional; baixo limiar para referenciar alterações persistentes (ulcerações, placas, disfagia, odinofagia). INCA (profissionais): evidência insuficiente para rastrear assintomáticos. [R19]
Fígado (HCC) em HBV/HCV Pacientes com hepatite crônica viral de risco: USG hepática + AFP a cada 6 meses (PCDT). [R20], [R21] Alinhado a hepatologia; encaminhar linha de cuidado especializada. [R20] Se imunossuprimido por DMT, não atrasar vigilância semestral; atenção a reativação viral e interação com tratamentos. [R20] PCDT Hepatites virais (MS/Conitec). [R20], [R21]

Legenda: TCBD = tomografia computadorizada de baixa dose; AFP = alfafetoproteína; PCDT = Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas; S1P = modulador do receptor de esfingosina-1-fosfato.

2) Vigilância oncológica específica por fármaco/classe de EM (o que a bula pede) + notas que acrescentam ao rastreio “padrão”

Resumo do que consta nas bulas/SmPC e documentos oficiais. Sempre combine com o rastreio “Brasil” acima.

Anticorpos anti-CD20 (ocrelizumabe, ofatumumabe)

  • Ocrelizumabe: bula profissional BR orienta seguir diretrizes padrão de câncer de mama (não cria intervalo próprio). [R9]
  • Ofatumumabe: eventos malignos são raros e não impõem rastreio adicional além do padrão; manter atenção dermatológica e mamária conforme idade/risco. [R22], [R23]

Moduladores de S1P (fingolimode, siponimode)

  • Siponimode: exame de pele antes e a cada 6–12 meses durante o uso. [R17]
  • Fingolimode: reforçar fotoproteção e vigilância clínica de pele (casos de carcinomas cutâneos relatados). Periodicidade definida pelo serviço; muitos adotam 6–12m por analogia de classe. [R18]

Alemtuzumabe

  • Tireoide: TSH antes e trimestral até 48 meses após a última infusão. [R10], [R24]
  • Pele: manter exame cutâneo regular (ex.: anual) durante/apos uso. [R10]
  • Hematológico/renal: hemograma e urina rotineiros conforme bula (não mostrado aqui; foco oncológico). [R10]

Cladribina (Mavenclad)

  • Contraindicado em neoplasia maligna ativa; em neoplasia prévia, avaliar risco/benefício e seguir rastreio padrão. [R25], [R26]

Natalizumabe

  • Evitar em câncer ativo, exceto carcinoma basocelular cutâneo (conforme SmPC). [R27], [R28]

Outros DMTs (teriflunomida, fumaratos, etc.)

  • Sem exigências oncológicas específicas de rastreio além do padrão. Manter atenção clínica e os programas nacionais por faixa etária.

Como aplicar na prática (resumo objetivo)

  1. Classifique o risco do paciente (idade, tabagismo, HBV/HCV, história familiar) e o perfil do DMT (S1P, anti-CD20, alemtuzumabe, cladribina, natalizumabe).
  2. Rastreio “Brasil” por faixa etária:
    • Mama 50–74 anos, mamografia a cada 2 anos [R1] (40–49: acesso ampliado SUS com decisão compartilhada [R2]).
    • Colo do útero 25–64 anos: DNA-HPV (SUS 2025); onde não disponível, citologia conforme protocolo [R3], [R5].
    • Colorretal: seguir protocolo local (ex.: FIT e fluxo pela linha de cuidado) [R11].
    • Pulmão alto-risco: TCBD anual 50–80 anos, ≥20 maços-ano, cessou <15 anos [R14], [R15].
    • Próstata: não rastrear população geral [R13].
    • Pele & Boca: sem rastreamento populacional; diagnóstico precoce e baixo limiar de encaminhamento [R16], [R19].
    • HBV/HCV: USG+AFP a cada 6 meses [R20].
  3. Ajuste por imunossupressão (DMT):
    • Colo do útero: citologia 6/6 meses no 1º ano; se normal, anual enquanto durar a imunossupressão; CD4<200: semestral [R6], [R7].
    • Pele (S1P): exame antes e a cada 6–12m (siponimode); em fingolimode, prática de vigilância periódica definida pelo serviço [R17], [R18].
    • Alemtuzumabe: manter TSH trimestral até 48 meses; exame de pele regular [R10].
    • Cladribina: contraindicar em neoplasia ativa; se história prévia, avaliar risco/benefício e manter rastreios padrão [R25].
    • Natalizumabe: evitar em câncer ativo (exceto CBC) [R27].
    • Anti-CD20: seguir rastreio padrão de mama com rigor (bula Ocrevus) [R9].
  4. Documente decisão compartilhada sempre que houver ampliação ou redução de intervalos.
  5. Automatize lembretes (EHR/agenda) para TSH trimestral (alemtuzumabe), pele 6–12m (S1P), TCBD anual (pulmão alto risco) e USG hepática semestral (HBV/HCV).
Disclaimer clínico

Este material resume diretrizes e bulas oficiais citadas abaixo. Não substitui o julgamento clínico individual, PCDTs locais, política institucional, nem considerações de comorbidades/gestação. Em caso de conflito, prevalece o documento normativo vigente do seu serviço/secretaria/estado.

Referências (links oficiais e revisões com boa reputação)

  1. [R1] INCA — Detecção precoce do câncer de mama (atualizado em setembro/2025): mamografia 50–74 anos, bienal. Link.
  2. [R2] Ministério da Saúde — Anúncio de ampliação de acesso à mamografia 40–49 anos (política assistencial SUS). Link.
  3. [R3] MS/CONITEC — Diretriz Brasileira (2025): rastreamento organizado com teste DNA-HPV no SUS. Link.
  4. [R4] INCA — Manual/Guia HPV DNA (2025): implementação do teste molecular no SUS. Link.
  5. [R5] INCA — Detecção precoce do câncer do colo do útero (2016–2022, página institucional). Link.
  6. [R6] SMS Curitiba — Linha de Cuidado (2024): imunossuprimidas (inclui DMTs) com citologia semestral no 1º ano → anual; HIV CD4<200 manter semestral. Link.
  7. [R7] SMS Bauru — Protocolo 2024 com mesma recomendação para imunossuprimidas e HIV CD4<200. Link.
  8. [R8] INCA — Diretrizes 2016 (cap. HIV/imunossuprimidas; histórico de prática com citologias 6/6 meses e anual). Link.
  9. [R9] Roche — Ocrevus (bula profissional Brasil): seguir diretrizes padrão de triagem de câncer de mama. Link.
  10. [R10] FDA/USPI — Alemtuzumabe: TSH trimestral até 48 meses; incluir vigilância cutânea. Link.
  11. [R11] SES-DF — Orientações para detecção precoce colorretal (FIT/fluxos). Link.
  12. [R12] Hospital de Amor (Barretos) — Programa de rastreio de câncer de boca (alto risco). Link.
  13. [R13] INCA/MS — Nota técnica: não rastrear populacionalmente câncer de próstata. Link.
  14. [R14] Medscape (reporta JBP): elegibilidade TCBD 50–80 anos, ≥20 maços-ano, cessou <15 anos. Link.
  15. [R15] Jornal Brasileiro de Pneumologia — “Lung cancer screening in Brazil: recommendations …” (SBCT/SBPT/CBR). Link.
  16. [R16] INCA (profissionais) — Pele (não melanoma): foco em diagnóstico precoce, não rastreamento populacional. Link.
  17. [R17] EMA — Siponimod SmPC: exame de pele antes e 6–12m durante o tratamento. Link.
  18. [R18] EMA — Fingolimod SmPC (alertas de segurança; vigilância de pele). Link.
  19. [R19] INCA (profissionais) — Boca/orofaringe: não há recomendação de rastreamento populacional. Link.
  20. [R20] PCDT Hepatite B e coinfecções (MS): vigilância HCC semestral com USG ± AFP. Link (PCDT).
  21. [R21] MS — Resumo/nota sobre vigilância semestral em HBV/HCV. Link.
  22. [R22] ANS — Relatórios técnicos sobre ofatumumabe (referência à bula ANVISA). Link.
  23. [R23] Conitec — Dossiê/relatório Kesimpta/ofatumumabe (eventos malignos). Link.
  24. [R24] EMA — Alemtuzumab SmPC (confirma TSH trimestral até 48m). Link.
  25. [R25] EMA — Cladribina (Mavenclad) SmPC: contraindicado em neoplasia ativa; seguir normas de rastreio padrão. Link.
  26. [R26] Merck (BR) — Bulário Mavenclad (paciente/profissional). Link.
  27. [R27] EMA — Natalizumabe (Tysabri) SmPC: contraindicar câncer ativo, exceto CBC. Link.
  28. [R28] Biogen Brasil — Tysabri (bula paciente): contraindicação com neoplasia ativa (exceto CBC). Link.
© 2025 — Conteúdo destinado a profissionais de saúde no Brasil. Última revisão: 09/10/2025.

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